quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O desemprego e o empreendedorismo - a ilusão

Oh, lecas, tu queres lá ver que...

Todos nós conhecemos quem até há uns meses atrás defendia acerrimamente que só quem não quer trabalhar está desempregado e que agora está também desempregado. Mais interessante ainda é que ainda há muita gente que tem essa teoria de que os apoios sociais deveriam acabar. Ouço sempre com estupefacção quem, por exemplo, na Antena Aberta da Antena 1 vem defender esta teoria. E quase aos berros diz que têm de acabar os subsídios porque as pessoas simplesmente não querem trabalhar e por isso é que estão desempregados. Muitos dos que pensam assim não sabem, com certeza, que muita gente que está desempregada já nem recebe subsídio de desemprego. 
Associado ao desemprego anda o problema dos suicídios. Aumentam a cada mês. Em Espanha a questão tem sido mais visível porque está associada ao ritmo dos despejos que já são numa média de 600 por dia. São 600 famílias despejadas todos os dias. Mas a mentalidade de que o desemprego é culpa do desempregado fez carreira e faz carreira, principalmente nos países latinos e do sul. Estes países têm sido remetidos a uma função de meros prestadores de serviços. As actividades produtivas foram deslocalizadas. Portugal quis tornar-se um país de serviços. A isto andou associada a apologia do Empreendedorismo. O Empreendedorismo é, de facto, muito positivo. Mas foi uma ideia utilizada para ajudar a transformar Portugal num país que nada produz. Ao contrário do que se pensa, Portugal é o país que cria mais empresas, é o país onde o empreendedorismo fez carreira. Claro que isso andou associado à deslocação da produção para outros países enquanto se fez crer às pessoas que não havia problema nenhum em cair no desemprego, que isso era uma oportunidade. E estas louváveis ideias, que são de facto louváveis, foram utilizadas para criar a mentalidade que ajudou a enterrar-nos e que há-de enterrar-nos cada vez mais. Quando para o ano atingirmos 20% de desemprego, e no outro ano sabe-se lá que percentagem atingiremos, aí estarão os restantes 80% ou 70% ou 60% para garantir que a culpa do desemprego é dos desempregados. E assim continuar-se-á a defender inquestionavelmente o Empreendedorismo num país que cria imensas empresas que duram 2 ou três anos mas que não criam nenhuma estrutura, não acrescentam nenhuma sustentabilidade ao sistema, pelo contrário, tornaram-no cada vez mais dependente da circulação de dinheiro que não existia de facto, da entrada de financiamento externo que recolhia juros, etc. De tal modo que agora se está a ver precisamente isso: o nosso sistema é insustentável.
A Alemanha fez os seus negócios com a China, a União Europeia teve de ceder à China e a outros mercados porque isso interessava à Alemanha que lhes vendia a maquinaria. Porque a Alemanha, obviamente, não caiu na parvoíce de estrangular a sua produção, nem na estupidez de se tornar um país de serviços.
Vemos agora que há cada vez mais despedimentos colectivos porque aquilo que se faz em Portugal pode ser feito em qualquer lado, na Índia ou na China, sem grande dificuldade. Ao contrário da Alemanha, não estamos especializados em nada que exija uma perícia exímia, um conhecimento especializado. A Irlanda restabeleceu-se também (mas não só) porque tem essa especialização, tem um sector industrial bem desenvolvido e especializado. Coisas que não podem passar a ser feitas na China de um dia para o outro. Daqui a uns anos, quando a China estiver mais especializada do que a Alemanha, então talvez os Alemães comecem a pensar de outra forma. Por enquanto, Portugal vai ser deixado a afundar-se cada vez mais - no limbo, desde que, obviamente, seja o que for que aconteça, não ameace a moeda única enquanto esta for útil à Alemanha. Mas a China sabe isso. Faz contratos que não têm altos rendimentos imediatos, mas que lhes permite aprender, conhecer estruturas, adquirir conhecimentos técnicos e científicos, porque sabe que, no futuro, isso levará para o seu território também as indústrias de ponta. Aliás, essa deslocalização também já começou. A Apple, por exemplo, já deu o passo.
Continuemos, pois, com a ideia de que o desempregado é o mau da fita, de que o empreendedorismo é que interessa seja em que moldes for, que é bom é essa iniciativa individual de cada um (e reafirmo que isso é verdade - mas depende da forma em que seja feito) - continue-se com essas ideias e daqui a uns anos veremos que tudo o que há vem da China, e que não só, como os EUA já estão, estaremos dependentes dos bancos chineses, como também estaremos dependentes de todas as suas empresas - mas nessa altura, durante muito tempo, as suas empresas poderão dar-se ao luxo de nos explorar sem qualquer medo, porque o mercado interno Chinês, quando estiver no seu máximo, terá um tal número de consumidores que os empreendedores chineses se poderão dar ao luxo de cagar para todos nós!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Nazismo na actualidade - O nazismo em cada um de nós

Oh, lecas, tu queres lá ver que...


Curiosamente, o Nazismo é associado quase exclusivamente ao Holocausto e ao extermínio dos Judeus. Essa calamidade é com toda a certeza um dos momentos mais negros do Nazismo. Mas pensar que o Nazismo é isso - ou até pensar que o Nazismo é sobretudo um pensamento racista, um pensamento contra esta ou aquela "raça", ou contra um certo conjunto de conjunto de raças, tem efeitos potencialmente perversos.

O Nazismo como ele se manifestou na Alemanha - O Nazismo de Hitler - talvez seja aquilo que deva ser chamado Nazismo no sentido mais estrito do termo quando se pretende uma referência histórica. Mas na verdade essa manifestação é uma entre possíveis. Para dar um exemplo, o Nazismo não seria menos nazismo se em vez de pretender erradicar os Judeus pretendesse erradicar os Ciganos (e o Nazismo também matou Ciganos, entre outros). O ódio particular aos Judeus não deve ser visto como a essência do nazismo. Pode ainda dar-se outro exemplo. Hitler pretendeu dominar o mundo através das armas, mas pode-se pretender dominar o mundo e utilizar outros meios. Se pensarmos um pouco talvez percebamos que não só nem todos os meios são válidos para alcançar um fim, como também nem todos os fins são válidos mesmo que os meios usados não nos choquem.

A melhor arma do Diabo é fazer-nos acreditar que ele não existe, porque então todas as coisas que lhe agradam, como são também aquelas que nos parecem agradar, deixam de se mostrar diabólicas. Da mesma forma, a melhor arma do nazismo consiste em fazer-nos crer que ele não mais existe, que ele já não é possível, que ele não se encontra nas ideias que nós temos. A melhor arma do Nazismo é fazer-nos crer que ele é irracional, absurdo, não civilizado, contra-natura. Aliás, esta ilusão é tão forte que, mesmo quando já se gaseavam seres humanos na Europa Civilizada, os próprios Judeus ainda não acreditavam que um povo civilizado, culto, superior como os Alemães pudesse vir a matar outros seres humanos com menos dignidade do que a merecida por um cordeiro ou uma vaca.

Por isso, também, espantamo-nos quando um hospital do Reino Unido deixa morrer mais de 1000 pessoas para cumprir as metas orçamentais, espantamo-nos quando um ministro diz que os velhos devem deixar-se morrer para desafogar o Estado, quando um hospital não aceita socorrer um doente cardíaco, quando uma empresa multinacional utiliza neo-nazis para controlar os seus trabalhadores... Mas tudo isto nos parece extremamente excepcional, coisa que alguns irracionais, algumas pessoas diferentes de todas as outras, são capazes de fazer, com toda a certeza porque têm os seus pensamentos deturpados, as suas mentes corrompidas. E é nisto que consiste toda a força do Nazismo: no facto de os nossos olhos estarem cegos para aquilo que se passa connosco. Precisamos de um EFEITO ESPELHO, precisamos rapidamente de tomar consciência de que esses fenómenos que nos parecem excepcionais são, na verdade, como que espelhos da nossa mentalidade, da mentalidade que está instalada nos nossos ossos, como tutano deles. Caso contrário será tarde de mais... porque o problema do nazismo é que as pessoas tendem a não o reconhecer como tal. Quer dizer, é muito fácil para nós hoje acusar o Nazismo do passado e não reconhecer que podemos estar a caminhar, precisamente, para o mesmo caminho. E, claro, num regime nazi a maioria está convencida de que está no caminho certo. Este aspecto não é de pouca importância.

Quando dizemos que tememos o regresso de um Hitler pressupomos um Hitler que vem com armas conquistar-nos mostrando o seu carácter diabólico. Não nos passa pela cabeça que podemos ser os seus soldados. Não percebemos que o maior problema é que, quando vem de facto um Hitler ao mundo, as pessoas tendem a segui-lo e a odiar todos aqueles que não se revêm nele. E o nazismo é também assim: vem como uma infecção silenciosa e alastra-se sob a capa de racionalismo, de eficácia, de um conjunto de valores que lhe são próprios e que nós tendemos a, pouco a pouco, abraçar e a amar e assim somos cada vez mais, todos nós, a verdadeira face do nazismo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O nosso Pobre Governo e a Moral do Futuro

Oh, lecas, tu queres lá ver que... o Coelho é um novo messias...


O nosso governo é, de facto, uma vítima dos interesses instalados. Quando chegou ao poder já tinha uma corja de interesses instalados em cada esquina. Por todo o lado estes interesses impedem o desenvolvimento da economia, impedem que o governo e os agentes económicos se entreguem ao bom funcionamento das instituições e dos mercados.

Por isso nos encontramos na situação em que nos encontramos. A culpa não pode ser apontada ao governo. Mas sim aos interesses. Esses interesses são os interesses dos portugueses que insistem na ideia egocêntrica de que têm direitos, e parecem acreditar que a sociedade foi criada para benefício deles. As pessoas têm esta vontade perversa de querer ser alguma coisa importante. Mas assim não se vai a lado nenhum. Enquanto as pessoas não deitarem de lado os seus interesses, a economia não progredirá!

Na verdade, o nosso governo tem sido uma espécie de messias. Veja-se bem como no Novo Testamento Jesus tem o cuidado de se dar com pessoas da pior espécie, desde ladrões a prostitutas. O nosso governo é o mais cristão da cristandade. Não só se dá, contra todas as más línguas, com ladrões, como tem como membros ladrões que, noutros países, como a Alemanha ou a Grécia, talvez estivessem condenados pela justiça. O governo é uma lição de ética e devíamos estar-lhe agradecidos pelos seus bons hábitos de convivência com gente da pior espécie. Mas não é tudo. O nosso governo é muito mais visionário do que o pobre Jesus. Jesus foi pouco revolucionário, porque não foi suficientemente longe. Dava-se com malandros mas mudava-lhes os padrões. Pegava numa prostituta a tornava-a santa. Pegava num ladrão e tornava-o um mãos largas. Ora, isto só revela as suas más intenções ocultas. Jesus só se aproximava dos ladrões para os corromper, o que revela bem quão torcida era a sua intenção, má desde início. O nosso governo é, neste aspecto, muito mais messiânico. Não só se dá com ladrões como os aceita tal como eles são. Não os muda noutra coisa, não lhes corrompe a natureza. Se eles são ladrões, que o sejam, perdoa-lhes os milhões que deslocaram sabe-se lá como para ilhas distantes. E mais, perdoa-lhes os erros que fizeram na gestão deste ou daquele banco, porque o humano é precisamente aquele que erra. O nosso governo compreende muito bem o erro, não só perdoa ao ladrão, como lhes dá facilidades e os incentiva a continuarem a ser ladrões, porque cada um é como é! Grande sabedoria a do nosso governo, e grande lição de moral: façamos todos como faz o nosso governo, perdoemos-lhe os dislates, os abusos! A grande consciência é a que perdoa, a que não só tolera, como ainda incentiva, não à santidade, mas à ladroagem. Abominemos esses jesuses que vão até ao ladrão para o corromper. Admiremos o governo que abraça o ladrão e o acolhe à sua mesa.