sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A crise do modelo de desenvolvimento ocidental e a emergência chinesa

Oh, lecas, tu queres lá ver que...

Sou capaz de acreditar que estamos a caminhar para um momento histórico de redefinição no Ocidente. O nosso modelo de desenvolvimento, o nosso sistema económico e político, estão cada vez mais moribundos e é presumível a sua queda ou reformulação a médio prazo, quem sabe, entre cinco a quinze anos.

Mas que alterações nos aguardarão?

Não estou certo de que as mudanças que se irão operar serão no sentido que consideraríamos, a priori, positivo.

Concedo que a necessidade crescente que a economia capitalista ocidental tem da China, bem como os elogios que os representantes financeiros mundiais têm tecido às políticas económicas chinesas - concedo que estes aspectos possam sugerir um determinado caminho. Podem configurar em si mesmos augúrios, presságios do que nos espera.

Sou capaz de acreditar que está eminente uma aproximação do modelo ocidental ao modelo chinês, talvez com algumas cambiantes. Mas, talvez o modelo do próximo futuro seja o chinês. A exportação do modelo chinês não ocorrerá, obviamente, às claras. Não veremos ninguém a empunhar armas e a implantar um sistema abertamente chinês. Não veremos propaganda a defender essa revolução.

Tratar-se-á de uma revolução paradoxalmente paulatina, mais lenta do que uma revolução habitualmente é, mas ainda assim, será de facto uma alteração brutal. Simplesmente, não será brusca, de um dia para o outro. Serão pequenas mudanças, nem sempre formalmente claras, que se imporão sempre pelas circunstâncias e em nome da população ou dos países, mas de forma irreversível o nosso sistema será cada vez mais como o modelo chinês.

Trata-se de simples evolucionismo político: o sistema que, num dado momento histórico, numa dada circunstância, perante certas condicionantes funciona melhor - esse sobrevive, os outros enfraquecem ou extinguem-se.

Há indícios: a Grécia que inventou a Democracia (democracia directa, embora não universal) há mais tempo que se inventou o Cristianismo teve que abdicar do referendo - as democracias ocidentais evidenciam medo relativamente a sufrágios universais; fala-se em discutir os assuntos mais importantes longe do conhecimento público, "porque o efeito de se saber que certas coisas se discutem é perverso" - pensar que é mau o público saber aquilo que se discute é sintomático de uma atitude não democrática (no sentido ocidental); o estabelecimento de governos sobretudo técnicos, sem verdadeira ideologia, como meros executores burocráticos é tão óbvio que nem seria necessário referi-lo - no governo alemão, incapaz de liderar, incapaz de pensar fora dos cânones do momento, nos governos da Itália e da Grécia que serão empossados nos próximos dias, até mesmo no governo de Portugal, o qual é mais um governo de técnicos do que um governo de políticos, mais um governo fantoche que um governo de decisões. Quando parece que o nosso governo toma decisões, devemos sempre resfriar esta ilusão com a realidade de que, na verdade, apenas cumpre ordens.

Enfim, alguns sinais estão aí. Veremos como será. Mas desconfio que no futuro estaremos tão próximos da China que podemos ser considerados a Macau do Ocidente (não me refiro exclusivamente a Portugal, mas ao Ocidente - talvez excluindo alguns países, como a Noruega, mas que poderão ser arrastados mais tarde).

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