terça-feira, 16 de julho de 2013

A política das salsichas e alforrecas

Oh, lecas, tu queres lá ver que vamos ser invadidos por alforrecas?


Os partidos mais à esquerda são muitas vezes acusados de não quererem de facto ser governo. Depois, quando parecem querer discutir formas de poder chegar a ser governo, são acusados de só estarem a procurar chegar ao governo.

Preso por ter cão e preso por não ter.

Acho que um partido tem sempre como objectivo ser governo - e deve tê-lo para que a sua mensagem seja, de facto, responsável. Mas deve também ter muito claro que o objectivo último NÃO DEVE SER tornar-se governo.

Se o fim de um partido é tornar-se governo, isso significa que fará de tudo, aceitará tudo e entrará em todo o tipo de compromissos desde que isso lhe dê mais hipóteses de ser governo.

À primeira vista parece que deve ser assim: se são as pessoas que decidem, se estamos em democracia, então parece que os partidos não deveriam ter ideologia, deveriam simplesmente ouvir os anseios das pessoas e aproximar-se deles, dizendo-lhes o que elas querem ouvir - e, idealmente, fazendo o que elas querem que eles façam. Os partidos deveriam, então, ser uma espécie de saco vazio pronto a ser cheio com o que, a cada momento, parecesse melhor às pessoas que votam...

Muita gente acredita nisto e defende isto. Há dias tive o prazer de ouvir um candidato socialista a uma autarquia defender justamente isto: ele não faz promessas, não tem um programa para apresentar, a sua ideia é falar com as pessoas, ouvir as pessoas... Isto é muito bonito de se dizer e as pessoas adoram ouvir isto... Este candidato, jovem, tem já uma carreira no partido e já ocupa um lugar numa dessas empresas camarárias: é uma salsicha. Os partidos estão transformados em máquinas de fazer salsichas...

Estas salsichas têm uma capacidade estonteante para vencer os supostos "tubarões" políticos - veteranos, barões, com fortes influências, que depois o aparelho não escolhe. Em vez disso o aparelho escolhe estas salsichas... Este fenómeno de ensalsichamento da política é verdadeiramente interessante. E os partidos parecem caminhar galopantemente para um ponto em que será praticamente irreversível. Os líderes, a todos os níveis, desde o nacional, ao local, são cada vez mais ocos, mais desprovidos de qualquer capacidade de decisão, mas chochos, mais desvitalizados, sem ideias próprias, sem perceberem efectivamente os temas sobre os quais têm de se pronunciar... qualquer alforreca pode vir a ser o próximo presidente da junta, presidente da câmara, líder de uma secção partidária, líder nacional do partido ou até mesmo primeiro ministro. Reforço: qualquer alforreca pode vir a ser o próximo primeiro ministro - na verdade, tudo indica que JÁ temos uma anémona como primeiro ministro e as coisas até parecem estar a correr muito bem...

ou não!

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